domingo, 16 de março de 2014

Usando mais do seu potencial !

AO FINAL DO TEXTO ENTENDA O PORQUE E COMO PRATICAR

Autor: Prof MSc. Kelmerson Henri Buck (currículo)
                                                  

O que pode diferenciar a performance de dois indivíduos igualmente treinados? Academicamente diz-se: ”diversos fatores” ;  o que não deixa de ser verdade, mas recentes estudos demonstram o quanto a mente esta atrelada ao desempenho.
Pense em uma prova, durante uma competição, quantas vezes já se perguntou: - O que estou fazendo aqui? Porque isso? Será que vou “quebrar”? Será que vou sentir aquela dor ? Então o foco da atenção  desloca-se da prova para o medo, para a ansiedade, para o sentimento negativo; o que não era perceptível (dor, cansaço, ansiedade)  torna-se um grande obstáculo.
Estudos comprovam uma grande relação positiva entre a prática meditativa e o melhor desempenho esportivo (Kee et Al. 2013, Kee & Wang,2008, Gardner & Moore, 2004, 2006, 2007). O estado de “mindfulness” (atenção plena no momento presente, intencionalmente e sem julgamentos), vivenciado e treinado na prática meditativa, está ligado ao melhor desempenho esportivo por reduzir a ansiedade e o estresse e aumentar as possibilidades da ocorrência do “estado de fluxo”, estado este onde há a realização de determinada atividade, estando a pessoa totalmente imersa na sua prática e com foco único no seu melhor desempenho (Jackson e Csikszentmihalyi,1999; Ravizza, 2002). É possível que você já tenha vivenciado o estado de fluxo, pense naquela ótima performance, talvez a melhor de sua vida e compare com os fatores abaixo.
Nakamura e Csíkszentmihályi (2001) definiram nove fatores que devem estar presentes quando da ocorrência do estado de fluxo:
  1. Clareza nos objetivos a serem alcançados.
  2. Alto grau de concentração em um limitado campo de atenção.
  3. Perda do sentimento de autoconsciência, sem preocupações com o autojulgamento ou o julgamento alheio.
  4. Sensação de tempo distorcida.
  5. Feedback direto e imediato quanto aos acertos e falhas no decurso da atividade.
  6. Equilíbrio entre os níveis de habilidade pessoal e de desafio a ser enfrentado.
  7. A sensação de controle pessoal sobre a situação ou a atividade, sem esforço consciente.
  8. A atividade em si é recompensadora, sem expectativa de recompensa imediata ou futura.
  9. Sentimento de fusão entre o praticante e a atividade praticada – a consciência é focada totalmente na atividade em si.

Estes aspectos podem aparecer de forma independente uns dos outros, mas, somente quando combinados, constituem o estado de fluxo. Mais abaixo veja como a prática diária pode  induzir o estado de fluxo.
Os métodos tradicionais em Psicologia do Esporte que visam maximizar o desempenho esportivo trabalham no sentido de se detectarem pensamentos irracionais ou ineficazes e corrigi-los, buscando o controle cognitivo. Este método se diferencia da abordagem “mindfulness” pois, nesta, busca-se a atenção plena ao momento presente e a aceitação desse momento – o objetivo não é controlar ou  alterar o conteúdo cognitivo mas, ao contrário, ensinar os atletas a aceitarem as suas cognições, emoções e sensações e se comprometerem com a ação em si, ao invés de lutarem contra os pensamentos negativos e desagradáveis (Bernier et. Al. 2009). Seriam induzidos, assim, a vivência do estado de fluxo.
A recusa de vivenciar sensações e sentimentos negativos e desagradáveis os torna mais insistentes (Hayes, 1987; Hayes, Pankey e Gregg, 2002). Tentativas de supressão ou esquivas de conteúdos aversivos facilitam a ruminação mental e levam ao aumento involuntário da atenção seletiva para tais conteúdos (Roemer e Borkovec, 1994), enquanto o treino de “mindfulness” tende a reduzir estes processos (Teasdale, 1999).
Dois estudos conduzidos por Bernier e cols. (2009) com atletas profissionais de natação e golfe demostraram a presença dos fatores de estado de fluxo, citados por Nakamura e Csíkszentmihályi (2001), quando de experiências desportivas consideradas ótimas pelos atletas. Nesta pesquisa, compuseram a amostra dez nadadores do Centro Francês de Treinamento, sendo sete destes atletas da seleção Francesa. Quando das ótimas experiências desportivas, cinco dos nove fatores citados como presentes no estado de fluxo se fizeram presentes para oito atletas e os outros quatro, para quatro atletas. Alto grau de concentração em um limitado campo de atenção e a atividade em si ser recompensadora, sem expectativa de recompensa imediata ou futura, incidiram em todos os 10 atletas nos referidos eventos.
A participação em uma competição desportiva pode gerar níveis subjetivos de ansiedade como resposta (Samulski, 2009). O aumento da ansiedade durante competições pode acarretar alterações fisiológicas (efeitos no organismo) e/ou psicológicas (aspectos cognitivos) no atleta.
Alguns dos sintomas da ansiedade são: o aumento da frequência cardíaca, do consumo de oxigênio, da pressão arterial e da frequência respiratória.
Atletas com altos índices de ansiedade tendem a ter um desempenho ruim ao se defrontarem com situações estressantes, ao contrário dos atletas que apresentam níveis mais baixos de
A prática da meditação tem apresentado resultados benéficos sobre os sintomas de ansiedade e estresse, segundo medidas de sofrimento psicológico (distress) e marcadores biológicos (Cruess e cols., 2000; Goleman e cols., 1976; Oman e cols., 2006; Ostafin e cols., 2006).
Goleman e Schwartz (1976) verificaram que indivíduos experientes na prática meditativa, quando expostos a um agente estressor, recuperavam-se mais rapidamente da excitação autonômica. Uma vez cessada a atuação desse agente, a frequência cardíaca e a resposta de condutividade da pele diminuíam mais rapidamente quando comparados ao grupo controle (formado por não praticantes da meditação), indicando uma capacidade de habituação mais rápida ao estresse nos praticantes de meditação.

COMO PRATICAR ?
O exercício de “mindfulness” deve ser realizado na posição sentada de olhos fechados e com plena atenção na respiração, tendo como objetivo vivenciar a respiração. Antes de iniciar o exercício específico sente-se confortavelmente, feche os olhos e respire sete vezes de maneira profunda e lenta, procure acalmar sua mente desligando-se do exterior, dos pensamentos cotidianos, do barulho externo; uma vez que sinta-se relaxado passe para o exercício mindfulness: - Passe a observar como o ar entra e sai de suas narinas, perceba o ponto de transição entre cada inspiração e expiração, não tente controlar a respiração, deixe-a fluir naturalmente, apenas observe-a. A mente “macaco” salta de galho em galho, pensamento após pensamento invadirá sua mente ao longo desta prática; ao surgir um novo pensamento, observe-o sem se envolver com o que este pensamento pode lhe trazer de emoções, apenas observe-o sem julgá-lo e novamente foque sua atenção à respiração. Tente este exercício diário por 15 minutos ao longo de 3 meses e “SINTA” na prática os benefícios hoje reconhecidos pela ciência, mas há milênios incorporados à cultura oriental.

Bibliografia
BECKER Jr. Manual de psicologia do esporte e exercício. Porto Alegre: Ed Nova Prova. 2000
and practice of sleep medicine. 2nd ed. Philadelphia, WB Saunders. 1994, p.18-25.
BERNIER M, THIENOT E, CODRON R, FOURNIER JF. Mindfulness and Acceptance Approaches in Sport Performance. J Clin Sports Psychol 2009, 4:320-33.
CARSKADON MA, DEMENT WC. Monitoring and staging human sleep. In M.H. Kryger, T. Roth, & W.C. Dement (Eds.), Principles and practice of sleep medicine, 5th ed, 2011: 16-26. St. Louis: Elsevier Saunders.
CHICHARRO JL., PEREZ M., CARVAJAL A, BANDRES F., LUCIA A. The salivary amylase, lactate and electromyographic response to exercise. Jpn J Physiol 1999, 49(6):551-4.
CRUESS DG, ANTONI MH, KUMAR M, SCHNEIDERMAN N. Reductions in salivary cortisol are associated with mood improvement during relaxation training among HIV-seropositive men. J Behav Med 2000, 23(2): 107-22.
CSIKSZENTMIHALYI M. Flow: The Psychology of Optimal Experience. Harper & Row 1990. ISBN 978-0-06-016253-5. Retrieved 10 November 2013.
DAMAZIO W. A ansiedade no voleibol. Trabalho de Conclusão de Curso (Trabalho de Educação Física), Instituto de Biociências - Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. 1997.
ENGESER S, RHEINBERG F. Flow, moderators of challenge-skill-balance and performance. Motiv Emot 2008, 32:158-72.
FALAVIGNA A, BEZERRA MLS, TELES AR, KLEBER FD, VELHO MC, SILVA RC et al.  Consistency and reliability of the Brazilian Portuguese version of the Mini-Sleep Questionnaire in undergraduate students. Sleep Breath 2011, 15:351-5.
FREITAS M. Medir a personalidade. Análise das características psicométricas de três questionários: Q. P.AS.; E.P.I.; S.C.A.T.; P. A. P. C. C. Lisboa, Cruz Quebrada: UTL – FMH. 1991.
GARBOSSA A, MALDANER E, MORTARI DM, BIASI J, LEGUISAMO CP. Efeitos de orientações fisioterapêuticas sobre a ansiedade de pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica. Rev Bras Cir Cardiovasc 2009, 24(3): 359-66.
GARDNER FL, MOORE ZE. A Mindfulness-Acceptance-Commitment (MAC) based approach to performance enhancement: Theoretical considerations. Behav Ther 2004, 35: 707-23.
GARDNER FL, MOORE ZE. Clinical sport psychology. Champaign, IL: Human Kinetics 2006.
GARDNER FL, MOORE ZE. The psychology of enhancing human performance: The Mindfulness-Acceptance-Commitment (MAC) approach. New York: Springer. 2007.
GOLEMAN DJ, SCHWARTZ GE. Meditation as an intervention in stress reactivity. J Consult Clin Psychol 1976, 44(3): 456-66.
GONÇALVES MG, BELO RP. Ansiedade Traço Competitiva: diferenças quanto ao gênero, faixa etária, experiência em competições e modalidade esportiva em atletas. Psico – USF 2007, 12(2): 301-7, Itatiba.
GORENSTEIN C, TAVARES S, ALÓE F. Questionários de auto-avaliação de sono. São Paulo: Lemos Editorial. 2000.
GOZANSKY WS, LYNN JS, LAUDENSLAGER ML, KOHRT WM. Salivary cortisol determined by enzyme immunoassay is preferable to serum total cortisol for assessment of dynamic hypothalamic--pituitary--adrenal axis activity. Clin Endocrinol 2005; 5(2):336-41.
HAYES LD, BICKERSTAFF GF, BAKER JS. Interactions of cortisol, testosterone, and resistance training: influence of circadian rhythms. Chronobiol Int 2010, 24(4): 675-705.
HAYES SC. A contextual approach to therapeutic change. Em: N. S. Jacobson (Org.). Psychotherapists in Clinical Practice 1987, pp.327-87. New York: Guilford.
HAYES SC, PANKEY J, GREGG J. Anxiety and acceptance and commitment Therapy. Em: E. Gosh & R. DiTomasso (Orgs.). Comparative treatments of anxiety disorders 2002, pp. 110-36. New York: Springer.
JACKSON SA, CSIKSZENTMIHALYI M. Flow in sports: The key to optimal experience and performances. Champaign, IL: Human Kinetics. 1999.
JUNG CM, MELANSON EL, FRYDENDALL EJ, PERREAULT L, ECKEL RH, WRIGHT KP. Energy expenditure during sleep, sleep deprivation and sleep following sleep deprivation in adult humans. J Physiol 2011. 589(1):235-44.
KEE YH, WANG CKJ. Relationships between mindfulness, flow dispositions and mental skills adoption: A cluster analytic approach. Psychol Sport Exerc 2008, 9: 393-411.
KEE YH, CHATURVEDI I, WANG CK, CHEN LH. The power of now: brief mindfulness induction led to increased randomness of clicking sequence. Motor Control 2013, 17(3):238-55.
KRUEGER JR JA, OBÁL F, FANG J. Why we sleep: a theoretical view of sleep function. Sleep Med Rev 1999, 3(2): 119-29.
LIKERT R. A Technique for the Measurement of Attitudes. Arch Psychol 1932, 140: 1-55.
LIPP MEN, GUEVARA AJH. Validação empírica do Inventário de Sintomas de Stress. Estudos de Psicologia 1994, 11(3): 43-49.
LIPP MEN. Inventário de sintomas de estresse para adultos de Lipp. São Paulo: Casa do psicólogo, 2000.
LIPP MN, NOVAES LE. O Stress. São Paulo: Contexto, 1998.
LUTZ A; SLAGTER HA, DUNNE JD, DAVIDSON RJ. Attention regulation and monitoring in meditation. Trends Cogn Sci 2008; 12(4):163-9.
MANOCHA R. Why Meditation? Aust Fam Physician 2000, 29(12): 1135-8.
MARTENS R, VEALEY RS, BURTON D. Competitive Anxiety in Sport. Champaign: Human Kinetics Pub, 1990.
MEADOWS GE, DUNROY HMA, MORRELL MJ, CORFIELD DR. Hypercapnic cerebral vascular reactivity is decreased in humans, during sleep compared with wakefulness. J Appl Physiol 2003, 94: 2197–2202.
MELLO MT, FERNANDEZ AC, TUFIK S. Levantamento epidemiológico da prática de atividade física na cidade de São Paulo. Rev Bras Med Esp. 2005; 6(3):119-24.
MITSUO H, MOTOYOSHI N, HORI T. Recuperative Power of a Short Daytime Nap With or Without Stage 2 Sleep. Sleep 2005; 28(7): 829-36.
MOREIRA MD, MELLO FJ. Psicoimunologia hoje. In: Mello Filho, J. (org.). Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992: 119-51.
NAKAMURA J, CSIKSZENTMIHALYI M. Flow Theory and Research. In: Snyder CR, Wright E, Lopez SJ. Handbook of Positive Psychology. Oxford University Press, 2001: 195-206.
OMAN D, HEDBERG JT, THORESEN C. Passage meditation reduces perceveid stress in health professionals: A randomized controlled trial. J Consult Clin Psychol 2006, 74(4): 714-19.
PINTO Jr LR. Polissonografia normal e nos principais distúrbios do sono. In: Tufik S. Sono: aspectos clínicos. São Paulo, Instituto do Sono-Unifesp, 2000.
PUJALS C, VIEIRA LF. Análise dos Fatores Psicológicos que Interferem no Comportamento dos Atletas de Futebol de Campo. Revista de Educação Física / UEM 2002, 13(1): 89-97.
RAVIZZA K. A Philosophical Construct: A Framework for Performance Enhancement. Int J Sport Psychol 2002, 33: 4-18.
RECHCHAFFEN A, KALES A. A manual of standardized terminology, techniques, and scoring system for sleep stages of human subjects. Washington: U.S. Government Printing Office, 1968.
ROEMER L, BORKOVEC TD. Effects of suppressing thoughts about emotional material. J Abnor Psychol 1994, 103: 467-74.
ROGER W, SHAPIRO SL. The meeting of meditative disciplines and western psychology: A mutually enriching dialogue. American Psychologist (American Psychological Association) 2006, 61(3): 227-39.
SAMULSKI DM. Psicologia do esporte: conceitos e novas perspectivas. São Paulo: Manole, 2009.
SCHAFFER O. Crafting Fun User Experiences: A Method to Facilitate Flow. Human Factors International, 2013.
SEGAL ZV, WILLIAMS JMG, TEASDALE JD. Mindfulness-based cognitive therapy for depression: A new approach to preventing relapse. New York: Guilford Press, 2002.
SPIEGEL K, LEPROULT R, VAN CAUTER E. Impact of sleep debt on metabolic and endocrine function. New York: Lancet, 1999.
SPIELBERGER CD. Anxiety: current trends in theory and research. New York: Academic Press, 1972.
SZENESZI DS, KREBS RJ. Estresse de Triatletas em Treinamento para o Ironman. Revista de Educação Física / UEM 2007, 18(1): 49-56.
TEASDALE JD. Metacognition, mindfulness and the modification of mood Disorders. Clin Psychol Psychot 1999, 6: 146-55.
WEINBERG RS, GOULD D. Psicologia do esporte e do exercício. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
ZOMER J, PELED R, RUBIN AH, LAVIE P. Mini sleep questionnaire (MSQ) for screening large populations for EDS complaints. USA: Verlag, 1985.